Primeiros passos do projeto Senha Aberta
14 de junho de 2016
O que é o projeto
Vivi dos 12 aos 33 anos de idade sob o regime de exceção, durante o período da ditadura militar brasileira (abril de 1964 a março de 1985).
O que teria sido minha vida sem essa ruptura nos direitos fundamentais dos homens e mulheres do Brasil é inimaginável. O que perdi, com a falta de liberdade de expressão e organização não é possível mais discutir ou recuperar. Para mim é possível, sim, recriar do ponto de vista da subjetividade e da arte.
Nesse período, apesar do medo que imperava, eu participei dos movimentos estudantis, e do Congresso de Reconstrução da UNE; da criação de jornais alternativos; do Movimento Feminino pela Anistia; do Movimento Anti Apartheid (da África do Sul); contra a Guerra do Vietnã, e de vários outros grupos que colaboraram com mudanças políticas.
Hoje, em 2013, olho para trás e vejo que nada passou. Tudo está em algum lugar em um baú, que pode ser aberto a qualquer momento. E tudo ressurge, pois existe um vácuo, um espaço buscando ser preenchido, mirando uma possível “exorcização”.
Este projeto tenta acalmar o temor da inutilidade da vida, na busca do que restou de esperança de tantos fatos históricos de uma época sombria, estendendo seus horizontes… e criar uma nova conexão, unir, através de lembranças desse passado recente, zonas paradoxais onde memórias e esperanças, realidades e mitos, se cruzam, se complementam e se questionam. Brotaram. E brotam.
Pretendo recompor possibilidades; transpor o sonho; tecer realidades imaginadas, e unir a diversidade.
O projeto envolve os seguintes países e canções:
África do Sul – God Bless Africa (Canção híbrida, atual hino da África do Sul);
Argentina – Los Hermanos (Atahualpa Yupani);
Brasil – Para não dizer que não falei das flores. (Geraldo Vandré);
Chile – Gracias a la vida (Violeta Parra);
Cuba – Guantanamera (Jsé Martí e Josito Fernadez);
Portugal – Grândola vila morena (José Afonso);
Rússia – A internacional comunista (letra de 1871, de Eugène Pottier);
Vietmã – Wes shall not be moved – No nos moverán (sem autor reconhecido.
(Gravada por Joan Baez).
Foi confeccionado um estandarte que caminhará aos oito países do projeto, sendo fotografado em locais e situações referentes às questões do projeto.
O estandarte:
Primeira Afinação: Portugal.
Realizada em residência artística, através da Câmara Municipal de Grândola, na cidade de Grândola, Portugal, de 20.04 a 20.05.2014.
Música seminal da Primeira Afinação: Grândola, Vila Morena.
Compositor: José Afonso.
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade.
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade.
Uma das fotos do projeto:
Primeira Afinação do Senha Aberta, disponível em:
http://senhaaberta.elianevelozo.com/about/