Havia pensado que meu cavalo só falava inglês. Agora sei falar inglês, e parece que ele só fala alemão!
Esta semana, ao chegar em Lajedo para pernoitar, tive uma das experiências mais estranhas de minha vida.
O hotel, onde hoje me hospedo, fica exatamente na cabeça da rua, ao lado da igreja matriz, vizinho à antiga loja do tio Zé.
Questionei-me se era aquele o lugar onde eu iria dormir.
Fixei os olhos em um pedaço de chão, transformei-o em palco. Conduzi cenários e pessoas àquele retângulo, pois dominar a cena, trazer a vida para aquele lugar, era essencial naquele momento.
Ali, acontecia a feira na qual eu tinha uma barraquinha de venda de roupas de recém-nascidos, tecidas por mim e por minha mãe.
Se antes o embate era com os fregueses para que levassem a mercadoria, agora era comigo mesma, com minhas lembranças. A noite transformou-se em tempestade cerebral.
Tudo veio em um galope rápido e perturbador. Um trotear constante e preciso. Os acontecimentos desfilaram naquela madrugada, como sequências de tomadas cinematográficas, ali, incrivelmente enquadradas: os dias no Ginásio Industrial, missas, vaquejadas, e o programa da rádio dos alunos da quinta-série, que fazia como locutora/pesquisador, foram algumas das cenas.
Agora observo tudo partindo de outros paradigmas.
E, se hoje sei que o meu cavalo não fala inglês, é hora de aprender outro idioma.