O sol brilhava ardente, e podia ser visto diariamente durante doze horas, um pouco mais brando no início das primeiras e nas últimas horas do dia, quando estava chegando ou partindo para o outro lado do mundo.
Os bichos diurnos corriam soltos nas florestas, montanhas e vales.
Os bichos noturnos, viviam onde somente a profunda escuridão reinada, e nunca haviam visto o dia, até quando um deles resolveu ser boêmio e trocou a noite pelo dia.
Quase não podia abrir os olhos, e foi muito lentamente conseguindo ver tudo.
Então, reuniu os bichos da noite em uma enorme assembleia que lotou a grande montanha e o vale.
E gritou, em uma língua geral, para que todos o compreendessem:
– Existe um sol enorme que brilha, e se pode ver tudo!
Necessitou explicar a palavra ‘sol’, até então desconhecida.
– E como assim? Como se pode ver tudo?
Uma grande balbúrdia se instalou.
Após alguns acertos, ficaram todos acordados, esperando o meio do dia.
Organizaram-se para soprar com todo o ouro de seus corações na tentativa de levar os raios do sol, do meio do dia, para o meio da noite…
Alguns cambaleavam de sono, mas todos permaneceram mais ou menos acordados, mediante toda aquela luminosidade.
Apertavam os olhos por causa do excesso de luz.
E…
– Agora! Agora! Agora!
Sopraram com tanta força que puseram-se a dormir, voltando a acordar somente no meio da noite, para pela primeira ver que o ouro de seus corações havia se transformado em um espelho.
Então, perceberam que se podia ver quase tudo, e que seus esforços para ficarem acordados havia valido a pena.
Desde então a lua, às vezes maior, as vezes média, às vezes cheinha, cheinha, espelhada de ouro, brilha no céu!